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Dica de leitura – Amora, de Natalia Borges Polesso

Por: Redatoria - Publicação: 3 de novembro de 2017
Dica de leitura – Amora, de Natalia Borges Polesso

A literatura contemporânea está cheia de bons escritores. E como bons leitores, nossa função é garimpar as revelações da atualidade. O livro da gaúcha Natalia Borges Polesso, merecidamente, vencedora do prêmio Açorianos de literatura de 2013 na categoria de contos, foi um desses bons encontros.

O livro Amora, lançado pela Não Editora em 2015, é composto de 33 contos que se configuram como uma surpresa a cada página virada. De uma forma muito sensível e madura, os contos conseguem alcançar a dimensão da experiência real das relações homossexuais estabelecidas entre as mulheres.

A obra consegue transpor clichês e estereótipos e trabalhar com a temática do amor homoafetivo de uma forma rica e complexa, representando personagens diversos e conseguindo explorar em cada um deles as suas personalidades e particularidades. O livro é, antes de tudo, um mosaico que representa a própria vivência contemporânea do amor, das relações, dos desejos e das impossibilidades.

É difícil conseguir trabalhar com temáticas tão desgastadas, ainda que atemporais, sem cair em discursos prontos, mas a obra da escritora alcança o propósito e vai além, mais do que trabalhar relações amorosas, os contos trabalham identidades, conflitos, descobertas e perdições. A linguagem enxuta, direta, com composições em diálogos e descrições realistas, se estabelecem, mantendo um vigor verbal e um lirismo que se esconde nas entrelinhas. Nas mãos da escritora, a temática do amor ganhou novas facetas.

“Ela estava em pé perto da sacada e observava, cansada o movimento da rua. O apartamento estava cheio. Era uma daquelas festas de amigo de um amigo de um amigo e nós duas lá éramos apenas outras. Tínhamos passado o dia juntas, mas há sempre aquele constrangimento próprio de uma coisa que ainda não é bem possibilidade nem de amizade, nem de nada, a não ser a salvação do desconhecimento. De longe, tentávamos adivinhar nossos humores. Eu quase alheia, ela talvez mais. A terceira taça já ia pela metade quando ela passou, e sem dizer nada, me levou pela mão até um dos quartos. Fechou a porta rapidamente com o peso do meu corpo, e com os braços estendidos, circunscreveu-me.

 – Quero te beijar.

Me disse isso enquanto olhava incisiva dentro do meu silêncio e desviava o rosto para o lado da janela.”

Vale a pena a leitura!

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